Como se preparar para o mundo novo (pós quarentena)

Texto por Thais Mantovani e Anna Denardin

O mundo já não é mais o mesmo e você sabe disso. O colapso ocasionado pelo coronavírus não atingiu apenas a economia, a sociedade, a saúde, a educação. A crise tem nos permitido repensar nossos próprios valores, nossa forma de pensar e agir no mundo, e tem servido como uma lente de aumento que revela desconfortos escondidos na “normalidade” da antiga narrativa.

Ailton Krenak, em seu novo livro “O amanhã não está a venda” (disponível gratuitamente na Amazon), comenta: “Não sei se vamos sair dessa experiência da mesma maneira que entramos. […] Tem gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromissos, como se tudo fosse voltar ao normal, está vivendo no passado. O futuro é aqui e agora.”

Desde o início da crise, temos visto políticos, empresários, instituições, governos e mercados financeiros buscando um resgate da situação existente antes da pandemia, em um claro apego à velha história que já conhecemos e sabemos das inúmeras falhas. Seria realmente possível passarmos pelo caos e retornarmos à vida exatamente como éramos antes? Ou mais importante, realmente desejamos que isso aconteça?

Se não podemos desejar voltar à normalidade, porque a normalidade era justamente o problema, então precisamos co-criar uma nova normalidade. Queremos um mundo novo, mas como? Separamos para você 8 práticas para adotar pós quarentena para auxiliar na mudança do mundo. Muitas delas já podemos começar agora!

  1. Abra sua cabeça! Questione o modelo atual e imagine o futuro.

  2. Reserve um tempo sagrado no seu dia para você.

  3. Veja a natureza como mentora.

  4. Quando necessário comprar algo, apoie os pequenos produtores locais!

  5. Crie seu banco de sementes e comece uma horta em casa!

  6. Separe seu lixo, monte uma composteira! (use o mínimo de plástico possível)

  7. Monte uma comunidade no seu bairro.

  8. Como posso gerar mais vida em tudo que faço? Aprenda mais sobre 

  9. regeneração.

1- Abra sua cabeça! Questione o modelo atual e imagine o futuro.

“As perguntas são o caminho para sabedoria coletiva.” diz Daniel Wahl, escritor do livro Design de Culturas Regenerativas. Para fazer algo novo, precisamos começar questionando o que queremos mudar. Porque o que estamos fazendo hoje não é mais adequado para o momento que vivemos? Que outras formas de viver podemos escolher? Abrir a cabeça é fundamental para aceitar a diversidade potencial da vida. Se estamos aqui, nesse ponto da história, é porque coletivamente caminhamos até essa direção. Assim, coletivamente podemos questionar nossos próximos passos e construir uma outra história para viver. O momento é agora de deixar a imaginação fluir e sair fora da caixinha. Leia sobre novas formas de existência com mais significado, sobre pessoas que estão transformando suas vidas através da permacultura, ou outras que estão aprendendo sobre a vida com nossos povos tradicionais e abra seu coração para a mudança transformadora.

2- Reserve um tempo sagrado do seu dia para você.

A partir da transformação interna podemos sentir a mudança que queremos ver no mundo. Esse processo precisa ser de dentro para fora para ser verdadeiro, algo que não estamos acostumados, pois vivemos nossa dia a dia mais preocupados com o que está externo a nós. A quarenta com certeza nos ensinou a importância da calma. Quando seu mundo interior está tranquilo e claro, você consegue manifestar exatamente aquilo que deseja. A importância da conexão consigo, com seu coração, com sua essência é a base da transformação que vamos viver, e você precisa estar preparado. Mudanças não são sempre fáceis, mas são reais quando vêm do nosso ser. Assim, tudo que você fizer na vida virá de forma autêntica e leve, pois não há esforço no tempo da alma.

3- Veja a natureza como mentora.

Nossa visão antropocêntrica muitas vezes nos faz acreditar que somos os seres mais evoluídos do planeta, que somos superiores e portanto mais sábios. Porém, desde o momento do surgimento da primeira forma de vida na Terra (há cerca de 3.8 bilhões de anos), até o surgimento do primeiro homo sapiens (há cerca de 350 mil anos anos), a natureza teve uma vantagem de aproximadamente 3.799.650.000 anos (!) para errar, aprender, e evoluir. Se a idade da Terra fosse o equivalente a um ano do nosso calendário, teríamos aparecido sobre a face do mundo a meros 15 minutos e toda nossa história teria se passado nos últimos 60 segundos. Enquanto isso, a vida aprendeu a se desenvolver no ar, nas profundezas do subterrâneo, mergulhada nos oceanos e no topo das montanhas mais altas. Aprendeu a se curar, a produzir o veneno e o antídoto, a armazenar energia através do sol, a transformar os ambientes mais hostis em lares aconchegantes com temperaturas estáveis, a produzir através de processos cíclicos sem qualquer tipo de desperdício. Em suma, a natureza já tem as respostas para muitos dos problemas que tentamos resolver. Observar como ela encontrou essas soluções e entender seus princípios de funcionamento pode ajudar os humanos a também evoluírem. A sabedoria está em toda parte, e quando aprendemos a olhar ao nosso redor através das lentes da regeneração, conseguimos perceber as soluções presentes diante dos nossos olhos. Exercitar esse olhar é uma forma inteiramente nova de abordar a vida para uma humanidade acostumada a “dominar” a natureza e, aos poucos, deixarmos a posição de seus exploradores para humildemente nos voltarmos à ela em busca de orientação.

4- Quando necessário comprar algo, apoie os pequenos produtores locais!

A localização é um dos princípios mais importantes da regeneração. Quando valorizamos a produção local, criamos resiliência para o sistema de produção e consumo, respeitamos a terra onde estamos e criamos uma relação com o local que vivemos. Além de incentivar a economia do nosso entorno e diminuir o uso de petróleo (e consequente emissão de poluentes na atmosfera) nos transportes de longa distância. Ao construirmos relações profundas com os produtores, entendendo o processo e os valores das marcas/pessoas que apoiamos, contribuímos com o fortalecimento da visão de mundo que acreditamos, com a descentralização do poder concentrado nas mãos das multinacionais e com a distribuição da renda de forma mais horizontal e localizada.

5- Crie seu banco de sementes e comece uma horta em casa!

Além de ser um ato de grande aprofundamento da sua relação com a natureza, para criar resiliência no sistema precisamos que todos participem da produção de comida. Ter uma horta em casa traz ensinamentos que muitas vezes não reparamos de primeira, como o cuidado com uma vida que vai nascer, o processo lento e belo da evolução a cada dia, o fruto do esforço e da paciência, a importância de nutrir um relacionamento e tantas outras lições de vida que o mundo das plantas tem a nos ensinar.

Para o banco de sementes, basta retirar as sementes dos alimentos que consome e deixar no sol por alguns dias até tirar a umidade. É importante que você retire todos os restos de comida. Depois faça pequenos envelopinhos de papel e guarde as sementes na geladeira. É importante que você identifique e coloque a data. Quando decidir plantar é só deixar de molho na água antes de plantar na terra.


6- Separe seu lixo, monte uma composteira! (use o mínimo de plástico possível)

Resíduos orgânicos como cascas de frutas demoram de 1 a 3 meses para se decomporem totalmente, já plásticos ficam pelo menos 450 anos no meio ambiente. Tentar montar uma composteira na sua casa, ou uma composteira coletiva para seu prédio/bairro é uma forma linda de ressignificar o que você via como lixo se transformar em solo fértil pronto para amparar uma nova vida, além de ser uma ideia divertida para aproximar sua família ou seus vizinhos na construção de algo coletivo. Também existem diversas iniciativas que recolhem seus resíduos orgânicos e te retornam mudinhas plantadas no solo adubado pelo seu lixo, em troca de uma contribuição mensal! Quanto aos resíduos não orgânicos, precisamos reduzir, reutilizar e reciclar o máximo possível. E a produção futura? Precisamos pressionar os governos e empresas para implantação de processos circulares. A economia circular é um ótimo tema para você pesquisar sobre ;)

7- Monte uma comunidade no seu bairro

Vivemos em bairros cheios de outros seres. Agora é o momento de nos conectarmos com aqueles que estão à nossa volta! Nos unir, apoiar, ter ideias e realizar projetos juntos para que o lugar em que vivemos viceje ainda mais! Pense, imagine sem limites tudo que você gostaria de ver regenerar no seu bairro, chame os vizinhos e idealizem juntos. Montem comunidades, mesmo que sem contato físico! A comunidade é a ponte entre nós e o mundo, nossas experiências coletivas nos conectam e fazem essa ligação com o todo, nos dão a sensação de que somos parte de algo maior. Nós perdemos essa conexão verdadeira com os vícios da modernidade individualista, e está na hora de resgatarmos nosso senso de comunidade.

8- Como posso gerar mais vida em tudo que faço? Aprenda mais sobre regeneração.

Quando estudamos somos provocados a nos abrir para diferentes visões de mundo. A regeneração desafia o modelo atual que vivemos e traz questões fundamentais para fomentar transformação cultural. Vivemos hoje de forma degenerativa. Vivemos extraindo tudo do meio ambiente e nossa volta sem a preocupação em dar algo de volta. A natureza se comporta de forma cíclica e nosso pensamento hoje se dá de forma linear, algo não está certo. Aprender sobre regeneração traz mudanças na base do nosso ser, onde a cada ato nos questionamos se estamos gerando mais vida ou não. Queremos deixar um mundo para que as próximas gerações floresçam e não tenham que “tapar” nossos buracos.

Acreditamos que essas 8 ações simples são os primeiros passos rumo à um futuro mais bonito, que leva em conta a diversidade, a resiliência, a colaboração e a regeneração como bases primordiais. Apesar de parecerem minúsculas, essas experiências de (re)conexão com a Terra são como o vento que assobia sobre uma fagulha e a transforma em chama. Charles Eisenstein diz que quando uma pessoa passa por uma série de iniciações na nova história, ela fortalece sua posição dentro desse território e assim pode abrir espaço para outros. Assim, sejamos como fagulhas luminosas levadas pelo vento, que espalham a semente da regeneração e que fornecem uma chama viva, forte e que queima — mas que nunca se apaga. Que esse fogo nos torne mais resilientes e abertos para o novo mundo que precisa de espaço para nascer.

 
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